APOLO E POSÊIDON

terça-feira, 28 de outubro de 2008

APOLO E POSÊIDON

A pobre Leto teve grande dificuldade para pôr no mundo seus dois filhos com
Zeus. Nova conquista do soberano dos céus, também suportou o rancor tenaz da esposa
dele, Hera.

Quando ela estava prestes a parir, a deusa, morrendo de ciúme, proibiu todos os
lugares da terra de acolhê-la. As montanhas, as planícies, os rios, a natureza inteira
temiam enfrentar a cólera divina e fugiam à aproximação da jovem mulher.

Leto já estava quase sem forças quando uma pequena ilha, sem levar em conta
as ameaças de Hera, ofereceu-lhe hospitalidade e o repouso tão ansiado. Delos, pobre
rochedo deserto, batido pelos ventos e pelas ondas, nada tinha a perder. Foi aí, ao pé da
única palmeira da ilha, que dois novos deuses vieram à luz.

O nascimento de Apolo foi anunciado por um sinal prodigioso: sete cisnes sagrados
deram sete voltas ao redor de Delos; sete vezes eles cantaram para a parturiente. Na oitava
volta, calaram-se de súbito, e o bebê saiu do ventre materno. Desde então, essas aves de
voz melodiosa passaram a ser os fetiches de Apolo, e Delos, seu lugar favorito.

O menino cresceu entre os hiperbóreos, para junto dos quais os cisnes o levaram
quando nasceu. Esse povo habitava uma região distante, no extremo Norte do oceano, e
vivia sob um céu sempre puro. Ao se tornar adulto, o deus foi para a Grécia.

Mal chegou a Delfos, onde queria fundar um santuário, soube que um dragão
chamado Píton guardava o lugar e semeava o terror, massacrando homens e animais.
Libertou a região desse monstro e foi aclamado salvador por seus habitantes, que logo o
adotaram. Edificaram para ele um templo colossal, onde Apolo instalou sua sacerdotisa,
a Pitonisa ou Pítia. Ela era encarregada de pronunciar as palavras que o deus lhe soprava.
A seguir, um adivinho explicava o oráculo aos que vinham de toda a Grécia conhecer
seu destino ou encontrar uma solução para um problema embaraçoso.

Apolo não era amado apenas por seus atos benéficos; também lhe apreciavam a
grande beleza.


Tinha os traços delicados de uma mulher e a musculatura bem-feita de um atleta. Sua
pele muito branca se destacava sob os cachos da cabeleira castanha. Ele encantava tanto
as moças como os rapazes, mas, apesar disso, teve amores infelizes.

A ninfa Dafne, filha do rio Peneu, foi a primeira a abrasar seu coração. Essa paixão
repentina lhe foi inspirada por Eros, o deus do amor, que procurava se vingar de Apolo
porque este o surpreendera um dia esticando a corda do seu arco. Rindo por ver aquela
criança brincar com suas armas, Apolo as tomou dizendo que elas estavam reservadas
para deuses mais poderosos. Eros pronunciou então estas palavras misteriosas:

"Suas flechas não são as únicas que ferem a quem atingem."

Eros atirou no deus uma seta que fez nascer o amor e, na ninfa, uma que gerou o
sentimento oposto. Dafne rejeitou as investidas de Apolo e fugiu do deus, que foi atrás
dela. Quando ele achava que a estava alcançando, a ninfa escapava, e então recomeçava a
corrida. Dafne logo se cansou e, temendo não ter mais forças para se esquivar ao
perseguidor, suplicou ao pai que a ajudasse. Peneu ouviu o apelo desesperado da filha e
lhe deu imediatamente outra aparência. No momento em que Apolo ia enfim agarrá-la,
encontrou um tronco de árvore rugoso e misturou seus cachos castanhos às folhas
escuras de um loureiro: a moça havia perdido para sempre sua forma humana. Com o
coração partido, Apolo jurou amar eternamente aquela árvore, com cujas folhas fez uma
coroa, que pôs na cabeça. Foi assim que a coroa de louros se tornou o símbolo de
Apolo.

Por duas vezes, Apolo teve que servir a um mortal. Com outros deuses, ele havia
conspirado contra Zeus, mas a conjuração fracassou. Para pagar pelo que fizeram, Zeus
mandou Apolo e Posêidon como escravos a Laomedonte, rei de Tróia. Ora, este último
estava precisando de mão-de-obra, porque queria construir uma grossa muralha em volta
de sua cidade.

Satisfeitíssimo por contar com operários desse calibre, o rei de Tróia incumbiu
Posêidon do trabalho. Um salário estabelecido previamente deveria recompensá-lo. O deus
dos mares trocou então seu célebre tridente por uma pá de pedreiro e trabalhou, como
escravo, na construção da cidadela. Erguida por um deus, ela seria inexpugnável,
enquanto outro deus não ajudasse a tomá-la.


Enquanto isso, Apolo cuidava de outra tarefa. Nas encostas cobertas de bosques do
Ida, guardava os rebanhos do rei. Os devaneios nas pastagens correspondiam melhor a
seu temperamento.

Terminado o trabalho com que pagaram por seu erro, as duas divindades foram
reclamar ao rei o salário combinado. Mas Laomedonte desrespeitou o compromisso assumido,
recusando-se a remunerá-los. Os deuses, furiosos, protestaram, porém o rei os ameaçou,
dizendo que mandaria cortar as orelhas deles e os venderia como escravos. Eles não
puderam reagir de imediato, porque haviam deixado no céu seu poder divino. Foram embora,
então, jurando vingança. De volta ao Olimpo, Apolo recuperou o poder e ordenou que a
peste assolasse a cidade.

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