O JULGAMENTO DE PÁRIS-ATENA

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O JULGAMENTO DE PÁRIS-ATENA

Os deuses estavam presentes ao casamento da ninfa Tétis com Peleu, um mortal.
Bem no meio da festa e dos cantos de himeneu,1 Éris, uma das divindades, levantou-se.
Éris representa a discórdia, que divide os deuses e os homens. A alegria dos outros a
entristece, e a felicidade deles é dolorosa para essa deusa malvada.

Na mesa em que se reuniam os convidados divinos, ela lançou um pomo de ouro.
Atena, Afrodite e Hera logo estenderam a mão. Éris lhes anunciou:

"Esse pomo que vocês três cobiçam é para a mais bonita."

Depois, calou-se.

Do rumor que percorreu a assembléia se elevaram sucessivamente os três nomes,
mas ninguém quis correr o risco de dar a última palavra e provocar a cólera das deusas.
Mesmo se a graça de Afrodite prevalecia, o brilho de Hera e a majestade de Atena
impediam os deuses de lhe conceder o prêmio. Éris sugeriu uma solução:

"Só um homem que não as conheça saberá escolher. E necessário um olhar novo
e um espírito virgem. As três devem comparecer juntas diante de Páris, um jovem
pastor que ainda não sabe que é filho do rei Príamo. Ele passa os dias nas montanhas
pastando suas ovelhas. Deixem-no julgar."

Guiadas por Hermes, as três deusas, impacientes por saber do resultado, foram às
encostas do Ida. Para convencer o árbitro, cada uma delas se cobriu com seus mais lindos
adornos. E, uma após a outra, procuraram convencê-lo fazendo-lhe promessas tentadoras.

Hera começou:

"Você está destinado a subir ao trono de Tróia. Se escolher a mim, esposa do Senhor
dos Céus, prometo-lhe o domínio de toda a Ásia."
Atena, a deusa da inteligência e da guerra, sucedeu-a:

"O poder sem a sabedoria não é nada. Em troca do pomo, eu lhe ofereço as artes
políticas e militares que lhe permitirão reinar e conquistar as cidades."

Afrodite foi a última a falar:
"Você é bonito, Páris, e seria justo que obtivesse o amor da mais bela de todas as
mulheres. Escolha-me, e lhe darei Helena."

Apesar da impressão que cada uma produziu no rapaz, as últimas palavras de
Afrodite foram as que mais tocaram seu coração. Correspondendo ao desejo que a deusa
fizera nascer nele, falou:

"Belas damas, vocês três são tão majestosas e tão divinas que não têm o que
invejar uma da outra. Mas, à força e à glória, prefiro o amor."

Com essas palavras, deu o pomo a Afrodite como prêmio para sua beleza.

Esse julgamento lhe granjeou a eterna gratidão da deusa do amor, mas em contrapartida
provocou a hostilidade das outras duas contra o povo troiano. O rancor de Atena
iria causar grandes desgraças à cidade de Príamo.

Pouco tempo depois, Páris deixou o rebanho e os pastos e foi para Esparta, certo
de que conquistaria o coração de Helena. Desconsiderando a hospitalidade do rei
Menelau, marido desta, o príncipe raptou a bela moça. O rapto encheu de indignação todos
os gregos, que se juntaram para vingar a afronta. Um imenso exército partiu em
direção às muralhas de Tróia, a fim de reclamar uma reparação. Durante dez anos,
valorosos guerreiros se enfrentaram por causa de uma mulher.

Nos combates da Guerra de Tróia, Atena favoreceu os heróis gregos. Sob diferentes
formas, ela aparecia para ajudá-los a alcançar a vitória sobre os troianos, dirigindo
habilmente suas tropas. A arte da guerra era familiar a essa deusa que já viera ao mundo
empunhando suas armas.

Atena era filha de Métis, primeira deusa a se unir a Zeus. Urano e Gaia tinham
prevenido o deus dessa descendência:

"O destino prevê que o primeiro rebento da sua união com Métis será uma filha
dotada de uma inteligência excepcional. Mas o segundo filho será um garoto violento e
invejoso do poder do pai. Ele não demorará a destroná-lo para reinar no universo em seu
lugar."

Temendo ter a mesma sorte que seu próprio pai, Crono, Zeus buscou um meio de
pôr fim aos partos de Métis. Com palavras sedutoras, chamou-a. Ela se aproximou, e
quando menos esperava, Zeus a agarrou e a engoliu como a um peixe. Assim, ele
encerrava dentro de si, com a mãe, a primogênita que esta trazia na barriga e que viria à
luz em breve.

Passado o tempo necessário para o nascimento, Zeus quis libertar a filha. Apelou para
Hefesto, que, com uma hábil machadada, abriu-lhe uma fenda no crânio, por onde a deusa
em armas saiu, soltando um estridente grito de guerra. O espetáculo prodigioso
encantou seu pai, que a presenteou com a égide. Essa armadura, feita do couro da cabra
Amaltéia, era uma poderosa proteção. Zeus já havia experimentado sua eficácia na
guerra contra os Gigantes. Atena tinha um aspecto altivo com seu capacete
emplumado, que lhe cobria os cabelos louros, seu grande escudo e sua comprida lança.

A deusa logo quis um reino. Escolheu a região da Ática, onde se encontrava uma
cidadela construída numa colina. O deus do mar, Posêidon, também estava de olho
nessa cidade. Para eleger seu soberano, os habitantes submeteram os pretendentes a
um teste e decidiram que a Ática caberia à divindade que lhe oferecesse o maior benefício.

Deuses e mortais se reuniram na Acrópole para assistir à competição e apontar
o vencedor. Posêidon golpeou o rochedo com seu tridente, e dele jorrou, de imediato, um
lago de água salgada. A maravilha era notável, mas o benefício, mínimo. Foi a vez de
Atena. No chão onde ela pusera seu cajado nasceu uma árvore de folhagem prateada e
frutos verdes. Um grito de admiração se elevou entre os espectadores: que prodígio!

Por unanimidade, resolveram conceder o poder a Atena, que acabava de introduzir a
oliveira nas terras da Ática. Para homenagear a deusa, os habitantes deram o nome dela
à cidade e lhe consagraram a oliveira. A cidade de Atenas se tornou, assim, sua
protegida.

A engenhosidade da deusa a levou a criar numerosas invenções. Para a guerra, ela
imaginou a quadriga, um carro puxado por quatro cavalos, que conduz os heróis ao
campo de batalha. Era igualmente considerada deusa da razão. Não foi por acaso que os
filósofos e os poetas dos outros países foram compor suas obras em Atenas, sob a
proteção da deusa.

0 comentários: