HADES E SEU REINO

terça-feira, 28 de outubro de 2008

HADES E SEU REINO

No limite da terra, onde o sol se põe e o oceano começa, abria-se o império dos
mortos, no qual reinava o poderoso Hades.

O mundo subterrâneo era rodeado de todos os lados por pântanos e rios. Portanto,
as sombras dos defuntos tinham que passar pelas águas lamacentas do Estige e do Aqueronte
para entrar nos domínios de Hades. O barqueiro Caronte aguardava na margem e só
aceitava a bordo da sua barca os mortos que tivessem sido sepultados. Os outros, os que
não foram encontrados ou foram abandonados, eram condenados a errar eternamente na
entrada do Inferno, enquanto esperavam que um vivo resolvesse enterrá-los.

Aqueles que embarcavam tinham que pagar Caronte. Era por isso, para que o morto
pagasse sua passagem, que os gregos punham uma moeda entre os dentes dele durante
o funeral.

Uma vez na barca, os defuntos deixavam definitivamente o mundo dos vivos.
Quem fazia a viagem num sentido, jamais podia retornar nem ver de novo a luz.
Cérbero, o cão de três cabeças, tratava de impedir os que tentassem fazê-lo. Postado na
entrada do reino, recebia com amabilidade os passageiros de Caronte. Mas se alguém
procurasse voltar, mostrava-se um guardião feroz. Ora, mais de um defunto aspirava à
luz logo que desembarcava na monótona planície dos Asfódelos. Arvores sombrias var
riam tristemente o chão com seus galhos. Que lugar sinistro!

Os mortos eram julgados de acordo com sua vida passada e, conforme seus erros,
eram postos em diferentes lugares. Minos, Éaco e Radamanto é que examinavam a vida
passada dos defuntos e pronunciavam um julgamento. Eles haviam sido designados juizes
por sua sabedoria e vida exemplar.

Os que não cometeram nenhum crime mas não se distinguiram por nenhuma ação
virtuosa, ficavam na planície dos Asfódelos por toda a eternidade.

Aos heróis e aos homens virtuosos, os juizes reservavam os Campos Elísios. Lá se
estendiam clareiras floridas das quais se elevava o canto dos pássaros e os acordes
melodiosos da lira. Os bem-aventurados se divertiam em banquetes onde o vinho corria à
larga.

Já os desgraçados que foram culpados de algum erro, recebiam punição eterna. Eram
encerrados no soturno Tártaro, cercado pelos meandros do rio Estige, e lá sofriam suplícios
proporcionais a suas faltas.

Tântalo, rei da Lídia, cometera em vida um crime horrível. Recebendo a visita dos
deuses, servira-lhes seu próprio filho Pélope, a fim de ver se eles eram capazes de identificar
a carne humana. Um só bocado bastou para que os deuses reconhecessem que o que
comiam não era um animal. Indignados, conseguiram trazer Pélope de volta à vida, mas o
rapaz guardou para sempre um vestígio desse banquete funesto: o ombro devorado foi
substituído por um pedaço de marfim.

Quanto a Tântalo, foi atirado nas profundezas do Tártaro para sofrer uma punição
terrível. Mergulharam-no até o pescoço num lago, debaixo de uma árvore com galhos
carregados de frutas maduras. Apesar disso, ele nunca saciaria sua sede nem mataria sua
fome. A água recuava, mal ele aproximava os lábios secos. Quando estendia a mão para
colher uma fruta, os galhos se erguiam. Numerosos supliciados povoavam assim essa
parte do reino.

Hades era o soberano onipotente de lá, porém não demorou para que o poder
deixasse de compensar sua profunda solidão. Cansado de reinar sozinho sobre aquele
povo de sombras, quis se casar. Infelizmente, as noivas eram muito raras. Nenhuma deusa
e nenhuma mortal queriam adotar aquela vida debaixo da terra, privada para todo o
sempre da luz do sol. Logo, ele se viu obrigado a raptar uma noiva. Sua escolha
recaiu em Perséfone, uma das moças mais bonitas da Sicília.

0 comentários: