DEMETER E PERSÉFONE

terça-feira, 28 de outubro de 2008

DEMETER E PERSÉFONE

Hades aproveitou um dia em que Perséfone passeava sozinha. Quando ela se
inclinou para aspirar o perfume de uma flor, a terra tremeu com grande estrondo. Uma
falha se abriu bruscamente, e dela surgiu o deus do Inferno, num carro puxado por quatro
cavalos negros. A jovem nem teve tempo de se recuperar do susto, porque ele a
agarrou pela cintura e a levou consigo. O carro sumiu tão depressa quanto tinha
aparecido, e a brecha se fechou atrás deles.

Os gritos desesperados de Perséfone foram ouvidos por sua mãe, Deméter. Ela
acudiu, mas tarde demais. Nada assinalava a passagem do deus. Somente o ar
agitado conservava o vestígio dessa aparição súbita, e as flores caídas atestavam
silenciosas uma agitação recente.

Apavorada, a pobre mãe não sabia mais aonde ia. Errava pelo lugar, esquecendo
seus deveres para com os homens. Normalmente, sua função de deusa da colheita, do
trigo e de todas as plantas lhe impunha vigiar a produção agrícola. Na ausência de
Deméter, o trigo se recusou a germinar, as plantas cessaram de crescer, e a terra inteira
se tornou estéril. Então os deuses resolveram intervir.

O Sol, que tudo viu, revelou a Deméter onde estava sua filha. A princípio ela
ficou aliviada por Perséfone estar viva, mas quando soube quem a detinha, exigiu que
Zeus obtivesse sua libertação.

"Entendo sua dor de mãe", o deus lhe respondeu. "Intercederei por você junto a
Hades. Ele vai devolver sua filha, ou não me chamo Zeus!"

Mas Hades se negou a deixar a doce companheira partir. Deméter decidiu então
abandonar suas funções. Pouco lhe importava como os deuses e os mortais viveriam sem ela.
Ela também não podia viver sem a filha. Assumiu o aspecto de uma velhinha e se exilou
voluntariamente na terra.

Iniciou-se então um período cruel para os homens. De novo o solo secou, e a fome
ameaçou a espécie humana. Essa situação não podia mais persistir. Os deuses se
reuniram no palácio de Zeus e concordaram em persuadir Hades a devolver Perséfone à
mãe. Zeus tomou a palavra:

"Caro irmão, você é o soberano do reino subterrâneo. Como tal, age de acordo
com a sua vontade, contanto que não se meta neste mundo. Ora, desde que você
reteve Perséfone, sua mãe recusa alimento aos mortais. Pela mesma razão, os
sacrifícios se fazem raros. Você não pode deixar essa situação se agravar. Devolva a
moça!"

"Está bem!", disse o deus esperto. "Mas antes preciso verificar se ela não comeu ou
bebeu alguma coisa durante sua estada, senão ela não pode mais voltar à terra. E a lei."

Interrogada, Perséfone respondeu com candura que tinha experimentado as
sementes de uma romã. Hades exultou. Mas acabaram fazendo um trato: Deméter teve
que aceitar que sua filha permanecesse três meses ao lado de Hades e subisse para ficar
com ela o resto do ano.

Assim é que, durante três meses, a terra se entristece, junto com Deméter, pela
ausência de Perséfone. E o inverno, e o solo se torna improdutivo. Logo que a moça volta,
a vida renasce, e a natureza inteira festeja o encontro entre mãe e filha. Somente
Hades acha demorada essa primavera que o separa de sua companheira

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