PERSEU, O ARGIANO

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

UMA CHUVA FECUNDA

Desde o seu nascimento, Perseu foi exposto a perigos. O avô dele, o rei Acrísio,
tentou impedir sua existência porque um oráculo lhe anunciara que seria morto pelo
filho da filha. E olhem que o rei fez tudo o que pôde para evitar o nascimento dessa
criança maldita!

Mandou construir um quarto de bronze numa alta torre do palácio de Argos e lá
encerrou a filha Dânae. Somente sua velha babá podia vê-la para lhe levar comida. As
paredes e as portas eram intransponíveis para os homens, mas, para Zeus, aquilo era
brincadeira. Ele entrou no quarto por uma fresta do telhado, sob a forma de uma chuva de
ouro. A moça o recebeu e lhe ofereceu seu amor.

Dessa união clandestina nasceu um menino. Conseguiram esconder ao rei a
existência de Perseu por algum tempo... mas, um dia, alertado pelo choro da criança,
Acrísio foi até a torre.

Sua surpresa e, depois, sua fúria foram imensas! Ele se recusou a crer na fábula da
intervenção divina. Persuadido da cumplicidade da babá, ordenou que a executassem. As
lágrimas da filha impediram que o rei eliminasse o menino, mas ele o trancou com a mãe
num baú de madeira e jogou o baú no mar.



QUE BOA PESCARIA!

O destino se mostrou mais clemente do que Acrísio. O baú foi jogado pelas ondas
no litoral da ilha de Serifo, onde, naquela tarde, Dicte recolhia suas redes. Como
estavam pesadas! Também pudera, com aquele baú de madeira! Abriu-o imediatamente,
pensando que ali encontraria um tesouro, mas, em vez de moedas e jóias, deu com
uma linda moça e um bebê faminto. No mesmo instante lhes ofereceu sua casa e sua
proteção.

Um dia, Polidectes, seu irmão, que reinava na ilha, foi visitá-lo. Assim que viu
Dânae, apaixonou-se loucamente por ela. Mas Perseu, que crescera, agora tomava conta da
mãe, e o rei compreendeu que, enquanto o filho estivesse junto dela, não poderia tentar
nada. Para sorte de Polidectes, apresentou-se uma oportunidade de afastar o rapaz.

O rei organizou em seu palácio uma grande festa, para a qual convidou o filho de
Dânae. Todos prometeram ao rei presentes suntuosos. Perseu propôs lhe oferecer a cabeça
de uma Górgona. Polidectes não disse nada no momento, mas no dia seguinte foi falar
com ele:

"Parece-me que ontem o ouvi me prometer um presente excepcional. Quando vou
recebê-lo?"

Vítima de suas próprias palavras, Perseu teve que cumprir a promessa. Despediu-se
da mãe, que o beijou ternamente recomendando-lhe prudência, e partiu em busca da
Górgona.



PELOS OLHOS DE UMA GÓRGONA

Esse nome causava arrepios. Designava três criaturas horrendas: Esteno, Euríale e
Medusa. Centenas de cobras infestavam suas enormes cabeças, e uma careta pavorosa
lhes deformava o rosto. Duas delas eram imortais. Perseu decidiu então atacar a
terceira, Medusa. No entanto a tarefa não era fácil: com um olhar, ela transformava
qualquer um em pedra.

O rapaz foi se aconselhar com as filhas de Fórcis, que também eram feiíssimas, mas
pelo menos eram úteis. Perseu não obteve facilmente as informações que queria, porque
a princípio elas se recusaram a dá-las. Precisou empregar muita esperteza. Como as três
velhas possuíam, juntas, um só olho e um só dente, que usavam uma de cada vez, Perseu os
arrancou e ameaçou atirá-los no mar. Elas logo lhe contaram:

"É com as ninfas que você vai encontrar os instrumentos necessários à sua vitória.
Elas têm sandálias aladas que o farão correr mais depressa, um saco para pôr a cabeça
da Górgona e um capacete, oferecido por Hades, que torna invisível quem o usa. Se você
se comprometer a devolver esses objetos, elas vão lhe emprestar todos."

Foi o que ocorreu. Além disso, de Hermes, Perseu recebeu uma foice de lâmina
dura e afiada, e, de Atena, um grande escudo de bronze polido. Assim equipado, calçou as
sandálias, pegou o saco, o capacete e a foice, e voou para o lugar onde as Górgonas
descansavam.

No caminho, pôde observar os vestígios da passagem delas: homens e animais de
pedra ladeavam a estrada. De repente, uma grande concentração de estátuas chamou sua
atenção. Elas formavam um círculo em cujo centro se encontravam as Górgonas
adormecidas.

Dirigiu-se pé ante pé até elas, tomando o cuidado de lhes dar as costas. Para se
orientar, observava o reflexo de seus passos no escudo. Medusa se moveu. Teria
percebido a aproximação do herói? Perseu não hesitou nem um segundo. Apertando firme
o cabo da foice, lançou o braço para trás e lhe cortou o pescoço com um golpe seco. Sem
tirar os olhos do escudo, agarrou a cabeleira de serpentes e enfiou a cabeça da Górgona
no saco emprestado pelas ninfas. Produziu-se então um fato estranhíssimo: do sangue de
Medusa nasceu um cavalo alado que imediatamente saiu voando. Perseu nem teve
tempo de admirar o vôo de Pégaso, porque as outras duas Górgonas acordaram.
Procuraram ao redor o responsável pelo que viram, mas Perseu, que estava invisível
graças ao capacete de Hades, já escapava correndo dali.

Com sua sandália alada, ele sobrevoou vários países. Seguia pelo litoral a
Etiópia, quando percebeu uma forma branca contra um rochedo batido pelas ondas.



ANDRÔMEDA E O MONSTRO

Aproximando-se, Perseu distinguiu a silhueta de uma moça em trajes sumários. Ele a
teria confundido com uma estátua, não fossem as lágrimas que molhavam seu rosto
desolado. Sua fisionomia comoveu o herói: quanto mais Perseu olhava para ela, mais
sentia crescer dentro de si um sentimento desconhecido... Desceu junto dela e lhe
perguntou:

"Qual a razão dessa sorte cruel? Por que deve suportar o assalto das ondas e do vento?"

A moça, perturbada por ser vista naquelas roupas precárias, explicou-lhe
timidamente:

"Estou pagando pelo orgulho da minha mãe. Ela se gabou de ser mais bonita do que
as ninfas marinhas, filhas de Posêidon. O deus respondeu mandando um monstro
assolar a costa, e fui eu que os habitantes do litoral ofereceram em sacrifício para aplacar
sua cólera."

Perseu prometeu libertá-la se ela aceitasse casar com ele.

Mal obteve seu consentimento, ouviu uma onda gigantesca quebrar nos rochedos. O
mar tinha se aberto ante o peito enorme de um bicho monstruoso que avançava direto
para sua vítima, com a bocarra escancarada. Perseu se virou para intervir. No mesmo
momento, os raios do sol poente projetaram sua sombra nos rochedos. O monstro se
distraiu com o novo agressor, que tentou pegar em vão. Esgotava-se perseguindo uma
simples imagem, quando Perseu o atacou e cravou a espada entre as escamas do réptil.
Foi um golpe mortal, e o monstro desapareceu nas profundezas, enquanto o herói vencedor
libertava Andrômeda.

A pobre moça, que desmaiara, voltou a si nos braços de Perseu. Pouco tempo depois,
casou-se com ele, e seus pais tiveram a alegria de celebrar ao mesmo tempo a libertação e
o casamento da filha única. Após a cerimônia, o casal voltou para Serifo, onde a
desordem tinha se instalado durante a ausência do herói. Polidectes tentara violentar
Dânae, e Perseu quis puni-lo: pôs diante dele a horrível cabeça da Medusa, e o rei foi
imediatamente transformado em pedra. Quando a calma se restabeleceu, o rapaz rumou
para sua cidade natal com a esposa.

No trajeto, pararam numa cidade em festa, e como Perseu era um excelente atleta,
participou dos jogos. Entre os espectadores estava Acrísio, que sabendo da volta do he- rói,
saíra de Argos. Chegando sua vez, Perseu arremessou um disco que foi acertar o ancião na
cabeça, matando-o. A funesta profecia acabava de se realizar, apesar dos esforços do rei. O
herói se entristeceu com o acidente e ofereceu esplêndidos funerais ao avô, antes de se
instalar no trono de Argos.

1 comentários:

Unknown disse...

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