PROMETEU E OS PRIMEIROS HOMENS

terça-feira, 28 de outubro de 2008

PROMETEU E OS PRIMEIROS HOMENS

Em seguida, os deuses criaram do barro os seres vivos. Sem perceber, privilegiaram
os animais, em detrimento dos homens.

De fato, os primeiros receberam as qualidades físicas que lhes permitiam se adaptar
perfeitamente ao meio natural. Alguns, como o urso, foram dotados de grande força;
outros, menores, como os passarinhos, ganharam asas para fugir. A divisão parecia
eqüitativa, e as qualidades distribuídas entre as diversas espécies se equilibravam. Mas
uma das espécies foi esquecida: a humana. Com sua pele apenas, os homens não podiam
suportar o frio, e seus braços nus não eram suficientemente robustos para combater os
animais selvagens. A raça humana estava ameaçada de extinção...

Prometeu, filho do titã Jápeto, sentiu pena dos fracos mortais. Ele sabia que a
inteligência deles possibilitaria que fabricassem armas e construíssem abrigos se eles
tivessem meios para isso, mas lhes faltava um elemento essencial: o fogo. Com o fogo,
poderiam endurecer a ponta de suas lanças, a fim de torná-las mais resistentes, e se aquecer
em seu lar.

Ora, os deuses conservavam com o maior cuidado a preciosa chama só para si.
Prometeu teve que penetrar discretamente na forja de Hefesto, o deus do fogo, para
roubar a chama, que levou para os homens oculta no oco de uma raiz.

Zeus não ignorou por muito tempo esse furto. Assim que notou o brilho de uma
chama entre os mortais, o poderoso soberano deu vazão à sua cólera. No mesmo instante
jurou se vingar dos homens e do benfeitor deles, Prometeu.

Combatendo uma esperteza com outra, teve a idéia de produzir uma criatura
irresistivelmente encantadora que causaria a desgraça dos homens. Assim, usando
barro, criou a primeira mulher, que chamou de Pandora. Contou com a ajuda de Hefesto,
que a enfeitou com as jóias mais delicadas, e de Atena, que a vestiu com um tecido
vaporoso, preso na cintura por um cinto trabalhado artisticamente.

Quando ela ficou pronta, Zeus a mandou à casa de Epimeteu, irmão de Prometeu.
Conhecia a ingenuidade e a imprudência desse deus. Não podendo resistir aos atrativos
de tão bela pessoa, Epimeteu esqueceu que o irmão o prevenira contra os presentes de
Zeus. Recebeu Pandora e a instalou em sua casa.

Pandora havia trazido consigo uma caixa que não deveria abrir em hipótese
nenhuma. Isso lhe fora expressamente recomendado por Zeus ao lhe dar a caixa. Era
mais uma esperteza, porque ele sabia muito bem que um dia a jovem iria querer
descobrir o conteúdo dela.

Movida pela curiosidade, Pandora acabou abrindo a caixa... de onde saiu
precipitadamente um vento de desgraças. Apavorada, ela viu passar a fisionomia
ameaçadora da crueldade e o sorriso malicioso do engano. Ouviu os gritos queixosos
dos miseráveis e dos sofredores. Outras desgraças começavam a se propagar assim
no vasto munido. Quando Pandora descobriu seu trágico erro, tampou rapidamente a
caixa. E então a Esperança e todas as promessas de felicidade para os homens ficaram
para sempre trancadas ali.

Nada disso se devia ao acaso: a primeira etapa da temível vingança de Zeus se
consumara.

O segundo castigo, mais cruel, iria atingir Prometeu. Zeus o acorrentou a um
rochedo com cadeias que o prendiam dolorosamente pelos braços e pernas. Assim
exposto, sem poder se defender, Prometeu sofria todos os dias o ataque de uma águia
que vinha lhe devorar o fígado. E todos os dias, para seu suplício, seu fígado se
recompunha. Em troca de um favor, Prometeu recebeu uma terrível punição.

Quanto aos homens, eles aprenderam com isso que um bem podia vir
acompanhado de uma desgraça.

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